Conto Social - 9º - Gênero textual

Olá, pessoal!
Estamos iniciando uma nova jornada em 2019. E fico muito feliz por estarmos trabalhando juntos novamente.

O primeiro post do blog é sobre o gênero textual que iremos trabalhar durante essas semanas. O conto social. 

O que é um Conto Social?

O conto social trata de temas de pessoas desprivilegiadas na sociedade, ou das minorias, denunciando injustiças sociais.


Solar dos príncipes - Marcelino Freire (Adaptado)


Quatro negros e uma negra pararam na frente deste prédio. A primeira mensagem do porteiro foi: " Meu Deus"! A segunda: "O que vocês querem"? ou "Qual o apartamento"? Ou "Por que ainda não consertaram o elevador de serviço?" "Estamos fazendo um filme", respondemos. Caroline argumentou: "Um documentário". Sei lá o que é isso, sei lá não sei. A gente mostra o documento de identidade de cada um e pronto. "Estamos filmando". Filmando? Ladrão é assim quando quer sequestrar. Acompanha o dia a dia, costumes, a que horas a vítima sai para trabalhar. O prédio tem gerente de banco, médico, advogado. Menos síndico.

O síndico nunca está.
 - De onde vocês são?
- Do morro do Pavão.
 - Viemos gravar um longa-metragem.
 - Metra o quê? Metralhadora, cano longo, granada, os negros armados até a gengiva. Não disse? Vou correr.

 Nordestino é homem. Porteiro é homem ou não é homem? Caroline dialogou: " A ideia é entrar num apartamento do prédio, de supetão e filmar. fazer uma entrevista com o morador".

O porteiro: "Entrar num apartamento?". O porteiro: "Não". O pensamento: "Tô ferrado". A ideia foi minha, confesso. O pessoal vive subindo o morro para fazer filme.  A gente abre as nossas portas, mostra as nossas panelas.

 Foi assim: comprei uma câmera de terceira mão, marcamos, ensaiamos uns dias. Imagens exclusivas, colhidas na vida da classe média. Caroline: "Querido, por favor, meu amor". Caroline mostrou o microfone, de longe. Acenou com o batom, não sei. Vou bem levar paulada de microfone? O microfone veio emprestado de um pai de santo, que patrocinou. O porteiro apertou o apartamento 101, 102, 108. Foi mexendo em tudo que é andar. Estou sendo assaltado, pressionado, liguem para o 190, sei lá.

A graça era ninguém ser avisado. Perde-se a espontaneidade do depoimento. O condômino falar como é viver com carros na garagem, saldo, piscina, computador interligado. Dinheiro e sucesso. Festival de Brasília. Festival de Gramado. A gente fazendo exibição no telão da escola, no salão de festas do prédio. Não. A gente não só ouve samba. Não só ouve bala. Esse porteiro nem parece negro, deixando a gente preso do lado de fora.

O morro tá lá aberto 24 horas. A gente dá as boas-vindas de peito aberto. Os malandrões entram, tocam no nosso passado. A gente se abre que nem passarinho manso. A gente desabafa que nem papagaio. A gente canta, rebola. A gente oferece a nossa coca-cola.

 Não quer deixar a gente estrear  o porteiro. É Difícil. Domingo, hoje é domingo. A gente só quer saber como a família almoça. Se fazem a mesma festa que a nossa. Prato, feijoada, guardanapo. Não precisa o síndico. Escute só. A gente vai tirar a câmera do saco. A gente mostra que é da paz, que a gente só quer melhorar, assim, o nosso cartaz. Fazer cinema. Cinema. Veja Fernanda Montenegro, quase ganha o Oscar.
 - Fernanda Montenegro não, aqui ela não mora.
E avisou: "Vou chamar a polícia" A gente: "Chamar a polícia?" Não tem quem goste de polícia. A gente não quer esse tipo de notícia. O esquema foi todo montado no sacrifício. Nicholson deixou de ir vender churros. Caroline desistiu da boate. Eu deixei esposa, cadela e filho. Um longa não, é só um curta. Alegria de pobre é dura.

-  Filma. O quê? Dei a ordem: filma. Começamos a filmar tudo. Alguns moradores posando a cara na sacada. O trânsito que transita. A sirene da polícia. Hã? A sirene da polícia. Todo filme tem sirene de polícia. E tiro. Muito tiro. Em câmera lenta.  Johnatan pulou o portão de ferro fundido. O porteiro trancou-se no vidro. Assutador. Apareceu gente de todo tipo. E a ideia não era essa.

 Tivemos que improvisar. Sem problema, tudo bem. Na edição a gente manda cortar.



Resultado de imagem para predio de vidro refletindo a favela

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